quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

ODISSÉIA

Por Freitas de Assis

Passados pouco mais de meio século de minha existência, chega ao fim minha fase de puberdade, onde agora, livre das obrigações profissionais com a secular corporação Alencarina, inicio minha jornada na vida adulta, sendo agora um jovem senhor aposentado, parasita do estado, recebendo seu rico dinheiro ao fim do mês, sem nem sequer dar um prego numa barra de sabão. Mas afinal foram 31 anos servindo e protegendo a sociedade, onde algumas vezes minha vida foi posta em risco, minha família foi privada de minha presença em aniversários, Natais e comemorações de Ano Novo, ficando a cobrança dos entes queridos que muitas vezes não compreendem as obrigações profissionais e os rigores da hierarquia militar, onde a cada despedida corria um risco maior de não retornar ao aconchego do lar. Hoje aposentado, mas não inativo, já vejo o mundo com novos olhos, onde antes de qualquer coisa, agradeço ao Criador por ter alcançado essa dádiva e completado minha jornada profissional com a saúde física e mental sem graves sequelas, e ainda sem colecionar desafetos dentro da caserna, muito pelo contrário graças ao bom Deus, e apenas uns poucos protagonistas de ocorrências, as mais variadas, que não ficaram satisfeitos com o desenrolar dos fatos, talvez possam nutrir alguma mágoa contra minha pessoa, a mim desejando o mal por ter agido com um pouco mais de energia contra eles, cessando suas ações criminosas e culminando com o cerceamento de sua liberdade.

Durante o ano de 2021 inicio a contagem do meu tempo de serviço para dar entrada em meu processo de aposentadoria, chamada de promoção requerida, onde em fins de setembro deste ano tem início minha jornada burocrática com toda a documentação necessária para a aventura que meu nome seguirá nas inúmeras pastas e secretarias do estado, e após algum tempo, devido a um erro no nome de mina amada mãe em uma certidão, o processo é parado para sanar o imbrólio e reiniciar novamente de onde parou. Em dado momento, confesso gora, devido as circunstancias do trabalho, ao círculo de amizades que criei, e outras banalidades ou mesmo medo da inatividade e a falta que a atividade policial poderia fazer em minha vida, tive um breve instante de reflexão e cogitei dar uma pausa em todo o processo, talvez ficar mais um ano, onde vejo alguns contemporâneos esperarem o tempo limite e só sairem da instituição na chamada expulsatória, e imagino como seria a vida após a aposentadoria.

Mas foi uma emoção efêmera, que se dissipou e virou uma vaga lembrança. Já em dezembro de 2022, inicio as merecidas férias, a última da carreira, sabendo que vou passar Natal e Ano Novo com a família, com o conhecimento de que minha equipe de serviço trabalhará no último dia do ano. Passado todo o tramite burocrático após mais de um ano, está o bendito processo parado no último estágio, esperando a benevolência do gestor da pasta onde ele se encontra para o encaminhar à mesa da governadora em seus últimos dias de mandato.

As revigorantes férias estão dando um adeus e em início de janeiro retorno ao trabalho, assim como ocorreu em janeiro do longínquo 1993, sendo que naquele ano eu entrava de serviço pela primeira vez servindo no 4° Batalhão na função de patrulheiro do sargento Justa, hoje tenente reformado e atuando como advogado, juntamente com um motorista cujo o nome me foge a memória. Era um tempo de raras ocorrências, não haviam celulares e redes sociais, o transito era rarefeito e ainda não existiam famigerados paredões de som; ocasionalmente haviam situações onde a presença policial se fazia necessária. Óbvio que assaltos, estupros, brigas de casal e desordens por embriaguez, são situações que existem desde tempos memoriais na história da vida cotidiana de inúmeras cidades mundo afora, bem como acidentes de transito existem desde a invenção do automóvel. E um acidente de transito foi o que marcou minha estreia na vida policial em Canindé, para onde vim transferido após um breve período de recrutamento e serviços prestados junto ao batalhão de choque, mas antes de me apresentar em dezembro de 1992, acabei ficando 15 dias de molho devido a uma torção no tornozelo. No retorno em janeiro, assumo a viatura para uma jornada de 24 horas de serviço por 24 de folga, uma escala inimaginável nos dias de hoje, onde este serviço em particular foi marcado apenas pela ocorrência de transito que mencionei, quando minha amiga Verbena, que hoje trabalha no Museu da Casa de São Francisco, sofreu uma fratura na canela, quando trafegava com outra amiga em uma motocicleta nas proximidades da chamada Curva da Morte, na Avenida Perimetral nas cercanias da Churrascaria Cajueiro, e colidiu em um ônibus, se não me engano, da empresa Gontijo. No Hospital São Francisco foi atendida pelo Doutor Martinho. Desta forma, coincidiu quase que um aniversário de trinta anos entre meu primeiro serviço em Canindé e o último, apenas uma diferença de dois dias, já que o acidente da Verbena ocorreu em cinco de janeiro de 1993 e meu último serviço foi registrado no dia três de janeiro de 2023 e no dia 04 veio a publicação de meu afastamento.

Chega ao fim dezembro, e em seu último dia com as expectativas do ano novo que se anuncia, permito-me uma extravagancia antes de iniciar as comemorações de Ano Novo e a farta ceia comum nesse feriado. Pego minha velha Bike, abasteço a mochila com água e sigo em direção da localidade de Cachoeira dos Lessas, onde um pouco mais adiante mora minha mãe e minha irmã caçula. Chegando por volta das nove da manhã, fico algum tempo, almoço e retorno para casa, numa jornada de 28 quilômetros ida e volta aproximadamente, debaixo de sol escaldante em uma estrada carroçável, uma verdadeira odisseia. Valeu a pena cada quilometro percorrido e cada gota de suor derramado de minha viagem, assim como valeu também cada ocorrência vivida e resolvida em todos esses anos vividos dentro da instituição. Ficarão eternizadas em minha gasta e velha memória as boas amizades, as histórias dentro das patruhas, as brincadeiras, as boas lembranças e a saudade. Tirando alguns poucos dissabores e observando algumas situações absurdas que presenciei, posso relatar que saio satisfeito, feliz e com a sensação de dever cumprido, pois sempre procurei pautar pela ética e profissionalismo em minhas ações. Dentro e fora da instituição Polícia Militar fiz boas amizades e conheci personagens únicos, como um grande amigo de Quixadá que dentre outras estórias, afirma em alto e bom tom que já presenciou naves e alienígenas nos sertões da Terra dos Monólitos e que seres interplanetários ocasionalmente por lá aportam para beber cachaça e zinebra com seu irmão em um terreno da família no interior de Quixadá. Assim, passados pouco mais de trinta anos de início de minha aventura embrenhando a farda da gloriosa, confesso que vivi bem esses meus últimos 31 e um anos de luta. Agora vou viver melhor para minha família e lembrar dos ecos dos tempos de herói.

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

AUTORA CANINDEENSE É CONTEMPLADA EM PREMIAÇÃO LITERÁRIA DE FORTALEZA

Ana Claudia e o pres. da Academia Cearense de Letras, Lúcio Alcântara

Por: Pedro Paulo Paulino

A jovem canindeense Ana Claudia Pereira Crisóstomo está entre os 48 autores que tiveram seu trabalho publicado em livro lançado na noite de ontem, 17/11, em cerimônia realizada no Salão Nobre Edson Queiroz, nas dependências do Ideal Clube de Fortaleza. A coletânea é parte integrante do XXII Prêmio Ideal Clube de Literatura, gênero poesia, promovido pelo Ideal Clube e chancelado pela Academia Cearense de Letras. O certame abriu as inscrições em junho deste ano e homenageou a memória do médico e escritor cearense José Telles (1943-2016). 

Com o poema intitulado Tributo a Nísia Floresta – Heroína brasileira, Ana Claudia colocou-se entre os 15 candidatos que tiveram seus trabalhos selecionados pela comissão julgadora, para comporem a coletânea. Além de certificado, menção honrosa e exemplares da publicação, os ganhadores receberam também uma premiação em dinheiro, de incentivo às artes. Diversos convidados participaram da cerimônia, inclusive autoridades, como o ex-governador Lúcio Alcântara, atual presidente da Academia Cearense de Letras. 

Ana Claudia Pereira Crisóstomo é natural da localidade de Bom Jesus, na zona rural de Canindé. Filha do agricultor Claudio Artur Crisóstomo, já falecido, e de Oscarina Pereira Crisóstomo, ela não esconde sua alegria em ver seu trabalho publicado na coletânea. “Estou emocionada, pois escrevo desde quando era estudante, e agora tenho em mãos um livro onde consta meu poema. Agradeço aos organizadores do Prêmio Ideal Clube de Literatura, por estimular a criação literária. Foi uma honra participar de um evento tão engrandecedor para nossas letras. Dedico esta conquista à memória do meu inesquecível pai”, conclui.

quarta-feira, 20 de abril de 2022

PEDALADAS MATINAIS

Por Freitas de Assis


Nem bem o dia amanhece e vez por outra estou na estrada lutando contra as calorias mais evidenciadas na circunferência abdominal, tentando pôr o corpo na melhor forma física que a idade permite, destruindo quilômetros em cima da velha “bike”, passando pelos desconhecidos e amigos que caminham, correm ou pedalam com objetivos semelhantes ao meu, onde neste pequeno percurso, o que observo além de meus semelhantes e a paisagem urbana, é o raiar de um novo dia, o sol que começa a resplandecer no horizonte, o vento frio da manhã que acaricia meu corpo e rosto já úmidos de suor pelo esforço empreendido, enfim, a liberdade.

E quase sempre nestas jornadas, a modorra e a mesmice são ocasionalmente quebradas por algum evento fortuito, como agora em meados de maio de 2021 na rua próxima de minha casa, uma cena tipicamente de grandes metrópoles: o trânsito fluindo lentamente, guardas controlando o fluxo da via e o intermitente da ambulância dos bombeiros, ao longe, tingindo a manhã de vermelho e os curiosos de plantão. Me aproximo... e “está lá um corpo estendido no chão”, com vida graças a Deus e com os soldados do fogo colocando um colar cervical na vítima. É uma mulher. Vai sobreviver. Um acidente de moto. Torcemos para que não fique internada, pois neste 2021, mais um ano desta pandemia, usada politicamente de formas que me recuso a comentar, em que amigos e entes queridos são levados mais cedo aos braços do Criador por essa doença que nivela ricos e pobres, não distinguindo entre suas vítimas o valor de sua conta bancária, apenas que pessoas mais abastadas podem pagar por um tratamento melhor caso a doença se agrave, mas não é sinônimo de salvação, e o fato de precisar de serviços hospitalares e entre eles a internação, existe grande risco de se contaminar. Mas não há com o que se preocupar. Se ela tiver histórico de atleta será só um resfriadinho, diriam alguns.

E ainda sobre pedalar e a quebra da rotina, nestas empreitadas, de vez em quando costumo mudar o percurso e rotineiramente me pego trafegando bem cedo pelo centro da Capital da Fé, passando pela nossa majestosa Basílica, subindo a avenida Chico Campos, retornando até o Zoológico e seguindo novamente pelo centro e indo para casa. Ocorre que o Zoológico, a Praça dos Romeiros e a Casa de São Francisco fazem parte da memória afetiva da maioria de nós canindeenses. Particularmente a mim mais ainda pelo fato de ter visto a construção da Praça dos Romeiros no final dos anos 80 do século passado e participado em meu primeiro emprego da construção do Zoológico em meados de 1991 ao lado do meu saudoso pai, do meu tio Chico Mãezinha e do seu Josa, exímios ferreiros, como já mencionei em outras ocasiões, quando da construção do Zoológico, ouvia melodias com o ribombar da marreta na bigorna e no ferro em brasa.

E nestes dias de retorno para casa, saindo do Zoológico, vejo a modorra ser quebrada pelo fato da velha oficina onde trabalhei com meu pai trinta anos atrás e que fica bem próxima do Museu, encontrar-se aberta. Segui até lá e o funcionário que se encontrava me deu um cordial bom dia, exaltando minha antiga patente militar de sargento, ignorando o fato de eu já ser subtenente, o que pra mim é irrelevante, já que o mesmo não deve conhecer de cor e salteado a hierarquia militar. Cumprimentei-o de volta e mencionei que trabalhei ali com meu pai no longínquo 1991 e adentrei na velha oficina e fui instantaneamente transportado para distantes e alegres memórias ao lado de meu pai e ocasionalmente de meu irmão Eriberto. Pois antes de aprendermos as primeiras lições de solda elétrica, ainda imberbes meninos, nos aventurávamos em cair e ralar os joelhos nas primeiras lições de bicicleta nos fundos da velha oficina, onde existia um enorme terreno antes da Praça dos Romeiros, inclusive um campo de futebol. Ando pelo interior da oficina e revejo as velhas máquinas que segundo o funcionário são pouco usadas, mas todas em perfeito estado. Estão lá o policorte, a prensa hidráulica, o esmeril, a furadeira e a forja com a bigorna, com uma marreta de cabo metálico e outras ferramentas feitas pelo saudoso seu Noberto, todas cheias de histórias de vidas para contar. Vi e revivi momentos alegres e saudosos. O movimento de muitos funcionários, as brincadeiras e a camaradagem. Tirei algumas fotos para lembrança, me despedi e agradeci ao funcionário pela oportunidade e fui me embora no momento em que caía uma leve chuva que ajudou a disfarçar umas poucas lágrimas que queriam transbordar de meus marujados olhos.

terça-feira, 15 de março de 2022

INAUGURADA CORDELTECA ARIEVALDO VIANA

Pais do poeta Arievaldo Viana cortam fita de inauguração

Na tarde do último sábado, 12/03, aconteceu na cidade de Quixeramobim a inauguração da Cordelteca Arievaldo Viana, instalada na unidade da instituição SESC, no mesmo prédio onde funciona a Biblioteca Antônio Conselheiro. O evento aconteceu dentro da programação do Conselheiro Vivo, que se realiza anualmente naquele município.

Além do prefeito de Quixeramobim, Cirilo Pimenta, e do presidente da Câmara, François Saldanha, diversas autoridades participaram da solenidade. Familiares de Arievaldo Viana se deslocaram de Canindé e de Fortaleza, a convite dos organizadores. Francisco Evaldo Lima e Hathiane Viana Lima, pais de Arievaldo, cortaram a fita de inauguração.

A denominação da Cordelteca é uma homenagem póstuma ao poeta cordelista e escritor nascido no interior de Quixeramobim, no final da década de 1960, e falecido em 2020. Estimado inicialmente em mil volumes de folhetos de cordel, o acervo da Cordelteca Arievaldo Viana contém títulos de diversos autores e foi doado pelo escritor Bruno Paulino, natural de Quixeramobim.

“Me surpreendeu a quantidade de pessoas inteligentes que trabalham pela cultura de Quixeramobim, gente de mente aberta e visão ampla,  tendo à frente a figura de Conselheiro como meio de promover o diálogo com todo o país”, afirmou o cordelista Klévisson Viana, irmão de Arievaldo. Na ocasião, ele fez o lançamento da sua obra mais recente: Meu baú de cordéis, além de um recital.

Durante o evento, foi entregue também a Comenda Antônio Conselheiro à jornalista Eleuda de Carvalho, e ao poeta Arievaldo Viana, in memorian. 

Pedro Paulo Paulino 

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

ASTRONOMIA


QUANDO O CÉU ERA DO PROFESSOR FARIAS…

Pedro Paulo Paulino

Observar o céu noturno é um hobby que me acompanha desde a adolescência e, até hoje, ainda sinto um raro prazer em ver as estrelas. Houve mesmo um tempo em que meu interesse pela astronomia despertou-me maior entusiasmo. Em Canindé, entre um grupo de imberbes já deixando o curso secundário, dividíamos horas em comentar assuntos dessa natureza, principalmente influenciados pelo astrônomo e escritor norte-americano Carl Sagan, que na década de 80 virou astro de televisão em grande parte do mundo com seu seriado Cosmos baseado em seu best-seller de mesmo nome. E também motivados pela leitura de Isaac Asimov, Stephen Hawking, George Gamow, John Gribbin e o brasileiro Ronaldo Rogério de Freitas Mourão.
Com o telescópio do
Professor Farias, (1988)
A crônica astronômica de Canindé, todavia, merece ser dividida em duas épocas distintas: antes e depois do Professor Farias. Seu prenome Eliúd, somado à cor triguenha e à uma boa estatura, fazia mesmo evocar nele alguma origem judia que lhe dava um aspecto de cientista maluco, predicados que o deixavam ufano. Barba rala, calva proeminente, tinha um olhar inquieto – e nem a lacuna deixada pelos pré-molares inibia em sua boca um sorriso franco. Contava presumíveis 50 anos. Professor Farias desembarcou em Canindé por volta de 1988 e logo sua presença causou impacto na cidade. Astrônomo, articulado e sobraçando invariavelmente um exemplar da revista Times, por outras qualidades mais ganhou a simpatia de todos. Foi acolhido mesmo pelo poder público, quando dirigia a cidade o então prefeito Ivan Magalhães que o mandou hospedar no melhor hotel, vendo nele talvez um guru para a geração de jovens estudantes das escolas municipais.
Lopes observa o céu na Vila Campos
Porém, o que mais ainda fazia chamar atenção no Professor Farias era exatamente um telescópio que ele trouxera consigo e que para todos nós foi motivo de muita curiosidade.
         Instalado à noite em locais estratégicos da cidade, através de suas lentes vimos a primeira vez aspectos maravilhosos do céu, como os quatro satélites interiores de Júpiter, os anéis de Saturno e as crateras da Lua. Imagens vistas pela primeira vez pelo sábio italiano Galileu Galilei, em mil seiscentos e alguma coisa. (O pioneirismo dessa descoberta, aliás, foi reivindicado por um contemporâneo de Galileu, Simon Marius. Mas não vamos entrar no mérito dessa questão secular por eles mesmos mal-resolvida.)
Não tardou para o Professor Farias conquistar nossa admiração. Mário Lira, Maurício Cardoso, Silvio R. Santos, Arievaldo Viana, Flávio Henrique, Lopes (De Vega) e eu o cercamos como a um verdadeiro mestre. Por ele fomos orientados a reconhecer as constelações, distinguir as estrelas por seu nome científico e grandeza; e vimos pelo seu telescópio Andrômeda, a galáxia irmã-gêmea da Via-Láctea, que calculam estar a trilhões de quilômetros da Terra.
         Sua maior concessão, todavia, foi, em algumas ocasiões, deixar seu telescópio a nosso inteiro dispor. Vila Campos, por conta disso, foi estampada em jornal, quando Silvio R. Santos e Arievaldo redigiam o extinto A Voz do Povo, informativo mais destinado aos interesses da municipalidade do que a assuntos celestes. Incluindo-se por conta própria na comunidade astronômica internacional, Professor Farias afirmava seguro ter contato direto com dignitários dessa ciência em todo o mundo. Certa vez na Vila Campos, contemplando um morro nos arredores de minha moradia, como se olhara o Monte Palomar, encontrou ali o local exato para instalação de um grande observatório, cujos equipamentos, segundo ele, mandaria vir da Rússia. Quanto sonho!
A astronomia era seu sacerdócio. O céu inteiro era do Professor Farias. Nessa época de glória, ele foi a vedete nas escolas de Canindé, que o intimavam a participar de eventos os mais diversos. Num desses, desfilou em carro aberto como atração cívica na parada do 7 de Setembro, exibindo a todos seu estimado telescópio. Sentia-se elevado quando o chamavam de astrônomo e diminuído se o chamavam de astrólogo. Uma noite, enquanto subia o alto do Monte com seu aparelho, em busca de uma atmosfera mais favorável a suas observações, ouviu alguém murmurar da calçada: “Ali vai o astrólogo Farias com sua luneta”. Foi o bastante para ele agastar-se e desistir de patrulhar os astros naquela ocasião. Centrado nas coisas do céu, ele pisava descuidoso na terra. A permanência em Canindé foi tornando-o bisonho e desgastado. Uma tentativa ridícula e frustrante à vereança local acabou de aniquilar-lhe os ânimos. A última vez que ressurgiu por aqui, arrastava um filho radicalmente avesso aos gostos do pai. E com este desapareceu de vez, como um cometa, até os dias de hoje. Professor Eliúd Farias nos deixou como herança a tradição de olhar o céu pelo telescópio. E desde então, toda vez que volto os olhos para o Firmamento, é-me impossível não relembrar seus sonhos e ideais loucos que ainda vagueiam, quem sabe, por entre as mesmas estrelas…


Olhar o céu pelo telescópio é tradição
que herdamos do Professor Farias


quarta-feira, 15 de julho de 2020

O MANIFESTO DOS SANTOS POR CAUSA DA PANDEMIA



Autor: Pedro Paulo Paulino

A Folha Celestial,
Que circula todo dia,
Em sua primeira página
Para o mundo noticia
Que os santos, em protesto,
Fizeram seu manifesto
Por causa da pandemia.

Pois em muitos povoados,
Vilas, distritos, cidades,
Devido ao coronavírus
E suas calamidades,
Com tanta gente morrendo,
Os santos não estão tendo
As suas festividades.

Alegam também os santos,
Que estão sobrecarregados
Com milhares de pedidos
Que são da Terra enviados
Direto à Corte Celeste,
Suplicando o fim da peste
Que já fez tantos finados.

São Jorge não tem mais conta
Dos rogos já recebidos;
Santo Expedito, também,
É um dos mais recorridos;
E São Francisco somente
Recebeu recentemente
Mais de um milhão de pedidos!

Dessa forma, tendo em vista
Essa ocorrência infeliz,
Vários santos, liderados
Por São Francisco de Assis,
A Deus foram recorrer.
Com detalhes, vamos ver
O que a notícia nos diz:

 “Céu, julho, 2020,
Atenção, muita atenção!
Para um fato inusitado,
De larga repercussão,
Que por sua envergadura,
Balançou a estrutura
Desta Sagrada Mansão!

Vários santos reunidos,
Com São Francisco na frente,
Foram juntos à presença
De Deus Pai Onipotente,
Para explicar que a Terra
Trava uma terrível guerra
Contra um vírus resistente.

São Francisco disse: – Venho,
Em nome de Jesus Cristo,
De quem sou imitador,
Só para vos dizer isto:
A humanidade vos clama,
Pois a Terra vive um drama
Que nunca se tinha visto.

Imaginai, Senhor Deus,
Canindé, minha cidade,
Conhecida em todo o mundo
Na religiosidade
E pela gente sofrida,
Passar o ano batida,
Sem minha festividade!...

Já vários colegas meus,
Convém o Senhor saber,
Não tiveram suas festas,
Pois não se pode fazer.
E do jeito que estou vendo,
Com esse desastre horrendo,
Nem minha festa vai ter.

São José pediu a vez
E disse: – no Ceará,
Onde sou o padroeiro,
Eu passei ao deus-dará,
Pois de diversos lugares,
O vírus mandou milhares
De suas almas pra cá.

Foi lamentável demais
A Capital Fortaleza
Não fazer a minha festa,
Foi a data uma tristeza!
São Roque, santo francês,
Pediu nesse instante a vez,
Para falar com clareza:

– Senhor Deus, a Vila Campos,
Que há cem anos me festeja,
Uma festa concorrida,
Muita bela e benfazeja,
Este ano está fadada
A não ter festa nem nada
Lá dentro da minha igreja.

Logo eu, que sempre fui,
Pelos devotos chamado
Pra combater peste e guerra
Desde o antigo passado,
Sem nada poder fazer,
Eu venho ao Senhor dizer
Que me sinto envergonhado!...

Santo Antônio disse: – Em nome
Dos colegas Pedro e João,
Venho dizer ao Senhor
Nossa grande frustração:
Devido à covid má,
Não tivemos arraiá
Nem fogueira nem balão...

Minha grandiosa festa
Na cidade de Barbalha,
Que todo ano acontece
Normalmente, nunca falha,
Em branca nuvem passou,
Pois a cidade enfrentou
E enfrenta essa batalha.

Padre Cícero falou:
– Senhor Deus, meu Juazeiro
Tem milhares de doentes,
E o Cariri inteiro.
Eu vos peço proteção
Para aquela região
De devoto e de romeiro.

Pronunciou-se também
Pela região Nordeste,
E Senhora Aparecida
Suplicou pelo Sudeste.
Várias representações
De estados e nações
Pediram o fim da peste.

E diversos outros santos
Falaram por sua vez,
Nossa Senhora do Carmo,
Santa Isabel, Santa Inês,
E até São Cipriano,
Perante o Deus Soberano
O seu desabafo fez.

Cofiando a longa barba,
Em silêncio Deus ouvia
O que a comissão de santos
Perante a Ele dizia.
Depois que a todos ouviu,
A palavra então pediu
E assim se pronuncia:

– Ouvi de vós vossas súplicas
E pedidos de clemência,
Porém sabeis todos vós
Que eu tenho total ciência
Do que na Terra se passa,
Seja vitória ou desgraça,
Eu sei de toda ocorrência.

Dei à Terra o dom da vida,
E ao homem, sabedoria,
De tal modo, que ele mesmo
Vai descobrir qualquer dia,
Através da medicina,
Definitiva vacina
Pra vencer a pandemia.

Sabe o homem fazer guerra
E fazer mísseis possantes,
Várias armas nucleares
Pra matar seus semelhantes,
Por que não sabe fazer
Armas para combater
Essas moléstias constantes?!...

Além disso, eu já lavei
As mãos pela humanidade.
Deixei água, ar e terra
Pra sua comodidade.
Mas foi o homem tentado,
E até eu fui vitimado
Por sua infidelidade.

Vós esqueceis, meus senhores,
Do caso de Adão e Eva?
Podem até esquecer,
Mas minha lei não releva.
Ambos, faltando juízo,
Deixaram meu paraíso,
Para mergulhar na treva!

São os homens, meus senhores,
Desse casal descendentes,
Minha criação primeira,
Minhas primeiras sementes.
Dei ao homem condição
De viver em união
Consigo e todos viventes.

Porém, o homem na Terra,
Com seu gênio de Caim,
Matou o meu próprio Filho,
Provando o quanto é ruim!
Escravo da hipocrisia,
Em caso de pandemia,
É que se lembra de mim!

O homem, ao próprio homem,
Para sempre está entregue.
E a despeito de tudo,
A Terra o seu curso segue.
Deve o homem procurar
Por si mesmo se livrar
De todo o mal que o persegue.

Para toda a humanidade,
Não mando o bem nem o mal.
Enquanto o homem constrói
Armas de poder mortal,
Devia era construir
Armas pra se prevenir
De tanto vírus letal.

Essa foi a informação
Bem transparente e precisa.
Deus recolheu-se ao seu trono,
Envolvido em leve brisa.
Em seguida, cada santo
Retornou para seu canto",
A notícia finaliza.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

CENAS DA TERCEIRA GUERRA, ACENOS DO FIM DO MUNDO


















Autor: Pedro Paulo Paulino

Até o ano dois mil,
Ouviu-se muito falar
Que o mundo, mais uma vez,
Por certo iria acabar
Por qualquer fatalidade,
E que o fim da humanidade
Perto estava de chegar.

Chegou-se a marcar o dia,
Hora, mês e tudo enfim,
Pois para o final do mundo
Foi aceso o estopim.
O mundo em sua jornada
Viu do milênio a virada,
Contudo, não teve fim.

A Terra continuou
O seu giro normalmente,
E na sua superfície
Os humanos, simplesmente,
Para frente foram indo,
Sempre se reproduzindo
E aumentando enormemente!

Dizia-se que o fim do mundo
Desta vez ia se dar
Pelo fogo, em vez da água,
Ou por guerra nuclear;
Em vírus, nem se falava…
O certo é que o mundo estava
Muito perto de acabar.

Não se sabe se o mundo
Renovou o seu convênio.
Mas vinte anos depois
Da passagem do milênio
(Quem diria jamais quando!)
O mundo está se acabando
Por faltar oxigênio.

Não que o gás tão nobre à vida,
Deixasse a Terra faltar.
Mas por causa de uma peste
De ação letal pulmonar,
No cenário mais horrendo,
Milhões hoje estão morrendo
Por não poder respirar.

Quando a humanidade vive
Seu momento mais fecundo,
Se torna refém de um vírus
E seu poder furibundo,
Por que não dizer, sensato,
Que a pandemia é, de fato,
Para nós o fim do mundo?!

Milhões de enfermos nos leitos,
Em casa ou no hospital;
Cenas bárbaras, quais cenas
De uma guerra mundial,
Têm a mesma cor e o tom
Da guerra do Armagedom
E da Batalha Final.

Cenas que foram descritas
No Apocalipse de João,
O qual também é chamado
Livro da Revelação;
O choro, o ranger de dente,
Um cenário hoje presente
Perante a nossa visão.

A pandemia ceifando
Sem dó milhares de vidas.
Famílias desesperadas,
Emergências entupidas.
Grandes cidades desertas,
Todas parecendo certas
Babilônias decaídas.

Até parece que a Terra
Parou e não mais se move.
O trabalho dos heróis
Da saúde nos comove,
Correndo o risco, coitados,
De serem contaminados
Por Covid-19.

Dezenas de corpos juntos
Numa só vala enterrados,
Entes queridos que foram
Pela peste dizimados,
São o cenário brutal
De uma guerra mundial,
Com milhões prejudicados.

Não se trata de uma guerra
De Portugal contra Espanha,
Nem França contra Inglaterra,
Nem Brasil contra Alemanha,
Mas contra um bicho invisível
Que com seu poder terrível
Na batalha sempre ganha.

Será o coronavírus
O tal Terceiro Anticristo,
O Grande Rei do Terror,
Por Nostradamus previsto?
Com tanta modernidade,
Será que a humanidade
Esperava tudo isto?

O Grande Rei do Terror,
Se Nostradamus não erra,
Teria origem na China
E tanta maldade encerra,
Que seria com estrondo
O monstro mais hediondo
Que veio à face da terra.

Que tenha ou não procedência
A chamada profecia,
Hoje infelizmente a terra
Vive o pânico e agonia,
Todo mundo em seus retiros,
Tudo por causa de um vírus
Causador da pandemia.

Será que de outro planeta
O vírus é oriundo?
Não se sabe. O que se sabe
É que a cada segundo
Estamos vendo na terra
Cenas da Terceira Guerra
E acenos do fim de mundo!

quinta-feira, 7 de maio de 2020

RECADO EM CATORZE VERSOS

Pedro Paulo Paulino 

Em casa, no momento, permaneça,
Enquanto a peste assola a terra inteira,
Com rapidez, sem freio, sem barreira,
Sem que a ciência a cura então conheça.

Se for sair, contudo, não esqueça
A máscara que é sua companheira.
Isolar-se tornou-se uma bandeira.
Atente para as regras e obedeça!

Aquele abraço amigo entre nós dois
Não é possível já, ficando assim
Guardado calmamente p’ra depois.

Diz-se: “formiga quando cria asa,
Ou quer perder-se ou busca o próprio fim”.
Portanto, mais que nunca, fique em casa!

quarta-feira, 1 de abril de 2020

QUANDO O DIA DA MENTIRA SE TRANSFORMAR EM VERDADE


Hoje é Dia da Mentira,
Se não lembra, então anote.
Por isso, por brincadeira,
Vamos pegar esse mote,
E para suavizar,
Vamos a datar chamar
De simples Dia do Trote.

Hoje é dia da potoca,
E pra festejar o dia,
Vamos mentir um pouquinho,
Porém, mentira sadia.
Começando então agora
Com a notícia da hora:
Acabou-se a pandemia.

Depois de longa batalha,
Foi feliz o arremate
Da ciência contra o vírus
Que nesse duro combate
Perdeu seu poder de fogo,
A ciência vira o jogo
E lhe dá um xeque-mate.

O vírus não mata mais,
Foi erradicado o mal,
Através de uma vacina
Contra o contágio letal.
Felizmente o ser humano
Retoma o cotidiano
E o mundo volta ao normal.

Na manchete do jornal
Lê-se em letras garrafais:
O fim do coronavírus
– Já matou, não mata mais!
Pois finalmente a ciência
Deu cabo da virulência
E o mundo respira em paz.

Nas colunas dos jornais
Lê-se também a notícia:
O Brasil, pra se viver,
Está mesmo uma delícia,
Com trabalho e com decência,
Não tem mais nem violência
E nem caso de polícia.

Acabou-se o desemprego,
Todos têm ocupação.
O país está nos trinques
E sem risco de inflação.
Ministro da economia
Só deseja hoje em dia
O bem da população.

Bozo, com educação,
Fala com os jornalistas.
Não é mais o presidente
Totalitário e fascista.
E pra melhor governar,
Pretende se filiar
Ao Partido Comunista.

O “gado” não veste mais
O terno verde amarelo.
Estão todos de vermelho,
Calçando apenas chinelo;
Modificou a divisa
E a marca na camisa
São a foice e o martelo.

Cunha, Temer e Aécio
Não são mais os salafrários
Nem golpistas descarados
Nem bandidos ordinários.
E a classe trabalhadora
Terá da classe opressora
Triplicados seus salários.

Reforma da Prefidência
Mudou em todos sentidos,
Os seus pontos já não são
Nem sequer mais parecidos,
Porque vai daqui pra frente
Beneficiar somente
Os mais desfavorecidos.

Donald Trump resolve
Pedir paz à terra inteira.
Não é mais rival do México,
Acabou toda fronteira.
Fez as pazes com Iraque
E não mais fará ataque
Contra a terra petroleira.

A paz será a bandeira
Para toda a humanidade.
Não há mais desunião,
Só amor, fraternidade.
Tudo isso está na mira
Quando o Dia da Mentira
Se transformar em verdade!...

quinta-feira, 26 de março de 2020

CRÔNICA DOS DIAS DE INSULAMENTO


Pedro Paulo Paulino

A cidade amanhece e anoitece vazia. Os dias, de domingo a domingo, assumiram rosto de grande feriado como a Sexta-feira Santa. A paz e o silêncio, de mãos dadas (esses podem dar-se as mãos!) passeiam nas vielas, ruas e avenidas; sentam na praça, embora nada conversem, pois o silêncio e a paz entendem-se telepaticamente. O vento, a luz, as borboletas também se locomovem livres nos labirintos desses vários mundos a que chamamos cidades e que são ordinariamente território estrondoso da agitação, do vozerio e dos decibéis invasivos da parafernália humana.

Nesses dias incomuns e longos, quem por força das circunstâncias não deve transitar em plena liberdade são os verdadeiros donos desses habitats: os humanos, tolhidos repentinamente em seu vaivém eterno em busca do tudo e do nada num só tempo. Um inimigo que de tão pequeno é invisível nos manietou. E nos enjaulou em nossos tugúrios de pedra e nos fez reféns da espada diabólica de uma peste mundial, eufemisticamente chamada de pandemia.
A humanidade, em seu tumulto incessante, em sua atividade formidável, não contava decerto com a astúcia de um serzinho a princípio insignificante e sua invasão insidiosa nos domínios do fenômeno humano.

De repente, um verme inconcebivelmente mau agarra o mundo e o bota de ponta-cabeça. Um profeta apocalíptico que estaciona o sol do trabalho, do progresso e da dinâmica da vida dos homens. Um intruso que altera comportamentos, regras, etiquetas e dita novas ordens contrárias mesmo ao bom senso. Ser solidário agora, por incrível que possa, é não estender a mão, é se afastar um do outro e se enclausurar dia e noite. Ser bonzinho agora é ficar distante do próximo, por contraditória que seja esta afirmação.

Em meio ao dilúvio pandêmico, convertemos nossos lares em arcas salvadoras, e dentro delas não sabemos ainda quando pisaremos terra firme, se em quarenta dias ou menos ou mais. Insulados, estamos testando nosso estoicismo, nossos princípios e crenças hipoteticamente inabaláveis.

No epicentro do pandemônio, adaptação tornou-se a palavra de ordem. E assim, usos e costumes e coisas vêm-se amoldando a esses dias tão incertos. Nos estádios esportivos transformados em emergência, entra em campo o time operoso a serviço da saúde pública, numa partida nervosa contra o adversário sinistro. Nas arquibancadas, somente o tempo e a esperança assistem de camarote ao duelo dos exércitos da salvação contra o gladiador virulento, numa batalha singular.

segunda-feira, 23 de março de 2020

CORONAVÍRUS TORNOU-SE A PIOR CELEBRIDADE!


















Autor: Pedro Paulo Paulino

O nome mais conhecido
Neste mundo, atualmente,
Não é papa nem artista,
Não é rei nem presidente.
É um bichinho invisível
Que com seu poder incrível
Vem matando muita gente!

Embarca pra todo canto,
Sem nunca pagar passagem.
Em tudo quanto é veículo,
Ele faz sua viagem,
Sem precisar passaporte,
Com a companheira morte
Na sua cruel bagagem.

Surgiu no mês de dezembro,
Lá pelos confins da China.
Seja qualquer território
Onde ele passa domina.
Não teme calor nem frio
E tornou-se um desafio
Pra moderna medicina.

Descobrir uma vacina
Contra o bicho, eis o problema
De difícil solução
Nessa conjuntura extrema!
Com a fúria de um demônio,
Não se viu tal pandemônio
Nem nas telas do cinema.

Qual Besta do Apocalipse
Velozmente galopando,
Por todos os continentes
Ligeiro foi se espalhando.
Contamina até no vento,
Por isso a cada momento
Vai-se o mal multiplicando...

Coronavírus não tira
Um momento de descanso.
Nada no mundo detém
Seu assustador avanço.
E no ponto a que chegou,
A pandemia fechou
O mundo para balanço.

Já invadiu toda a Itália
Da famosa Mona Lisa,
Foi à Praça de São Pedro
Subiu a Torre de Pisa.
Até o Papa Francisco
Está no grupo de risco,
Pois o vírus não alisa.

Detesta a terceira idade,
Com quem é mais violento.
Tornou-se um grande flagelo
Num mundo já virulento,
Com os seus terríveis danos
Provocando entre os humanos
Muito mais isolamento.

Opera feito um danado,
Não sabe o que é preguiça.
Como embaixador do mal,
Seu tempo não desperdiça.
Por causa dele, nem mais
Tem o abraço da paz
Na hora da santa missa!

Com seu poder diabólico
O Atlântico atravessou,
Até com a comitiva
Do Planalto viajou,
E em dada ocasião,
De mala e cuia na mão
No Brasil desembarcou.

No país que um arrogante
No poder fala mais alto,
Coronavírus chegou
E foi logo dando um salto.
Só faltou salva de tiros
Para receber o vírus
No Palácio do Planalto.

Pois o presidente então,
Com toda a sua arrogância,
Fez foi manifestação
Na mais grave circunstância,
Como um louco que, afinal,
Não dá ao terrível mal
Sua devida importância!

Se lá nos países ricos
Causa tanto prejuízo,
Imagine em um país
Onde um biltre sem juízo
Governa arbitrariamente;
O corona, certamente,
Encontrou seu paraíso.

De que valem das nações
Seus poderes militares,
E dos Estados Unidos
As ogivas nucleares,
Se o mundo fica refém
De um vírus que apenas tem
As funções rudimentares?...

O corona não distingue
Primeiro e terceiro mundo.
Igualou a humanidade
Num desespero profundo,
Velozmente se espalhando,
Multidões contaminando
A cada simples segundo.

Colabore na campanha
Que por ora se promove.
O vírus se espalha mais,
Se o povo se locomove.
Fique em casa enquanto passa
A temível ameaça
Da covid-19.

E que sirva de lição
Para toda a humanidade,
Escrava do capital,
Longe da fraternidade.
Basta um vírus, simplesmente,
Pra desbancar de repente
A nossa pobre vaidade!...